segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

As horas ...



Na cama, esperando as horas seguirem para o ponteiro final, sendo consumido pelo desnecessário na inércia distante do ócio criativo. Livros no chão, computador desativado, cartas de baralho perdidas, sem ereção fundamental, pornografias repetidas, chamadas telefônicas no “mute” e as redes sociais - pescadoras de solitários - congestionadas. Mãos no bolso esquerdo. Agora, no direito. Encontra-se a bússola.  Mais uma vez partida. Sinal que as direções estão tortuosas. A cama é o melhor local para resistir à lentidão das ruas, suportar a falta de diversão e sentir a inexistência de barulho. Os escritores finalizaram suas histórias e dormem em sono estranho. As horas partirão em viagem de qualquer jeito. Dessa vez, a literatura não conseguirá frear a inevitabilidade do consumo do Em Si que absorve o humano. As horas tomarão seu rumo, ainda que se mexa na ampulheta do jogo Imaginação. Aliás, quem não brincou de Imagem/Ação quando criança? É só uma pergunta. O relógio é a ideia perfeição do tempo.  As horas se completam. São precisas, exatas e responsáveis. Fecham duas, três ou quatro horas, a depender do compromisso marcado, a obedecer à regra do dia. As horas ficam registradas na mente e, por isso, mentem, engabelando os sistemáticos, lhes retirando a tardia noção de que o tempo é fugidio, um sabão molhado nas mãos do apressado em ver espumas. As horas ficam. O tempo se esvai. Vai-se o tempo. Fica-se o tormento, a infinita reflexão sobre o Carpe Diem. O que corre sem retorno é o agora. Sem finalidade própria, acho que sim, esperar as horas. Sem sentido mesmo, porque já se sabe o fim dessa conversa impontual: a cama. Simplesmente a cama com seus lençóis limpos, lavados com o melhor amaciante, que tristemente frustrou as saborosas lembranças de um sexo visceral.  Às vezes, o Kama Sutra é melhor na literatura, porque ao se ter algumas sombras como companheiras de um dos lados da cama, as figuras coloridas impressas no guia de sexo da humanidade são mais animadas. Não adianta lutar contra esse estado psicológico. Aos poucos, ele partirá com as horas. Devagarzinho, engatinhando, tropeçando no nascer de outros sentimentos. O melhor será esperar a passagem. As horas passarão. O navio singrará no verde mar, despistando, através de caminhos de ondas, as profundezas belas do mundo aquático. Levando consigo as horas perdidas, chamadas de saudade para os que ficam.  Precisa-se de fé ou resignação. Ou um pouco de algo que anda na ponte que liga essas duas coisas maleáveis, variantes, manipuláveis e altamente usadas como elixires para as ressacas de culpas e desacertos. Já sei: deve-se aceitar o radicalismo astral da Criação ao determinar que domingo é domingo, dia de tédio, de algumas refeições em família e orla lotada de domingueiros andantes. Domingo é domingo, mesmo que seja véspera de 31 de dezembro de um ano qualquer, e toda a cidade tenha comprado fogos de artifício para celebrar a esperança global, previsível nas mentes de leitores da Sorte, alumiados por candeeiros enferrujados e suspensos sobre suas gigantes cabeças com fios velhos, cortados e retirados da central elétrica da cidade: a televisão.  

Um comentário:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.