sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Feliz ano novo!

                     A renovação deve acontecer. Agora, seria precisamente no dia 01 de janeiro de todo ano? Nesse dia haveria uma espécie de posse coletiva das boas novas anunciadas pelo nascimento do menino Jesus na precedente festa natalina? Parece estranha tanta assunção ao Poder num dia só.
 
                 Tem-se percebido que, afora os feriados, recessos e campanhas de brinquedos e roupas para os pobres de sempre, já que dificilmente deixam de ser pobres de um ano para o outro, ou até mudam de status, classificando-se de miseráveis no ano seguinte, o que recorda a chegada do ano novo são as mensagens coletivas enviadas para os celulares gentilmente vendidos pelas grandes Operadoras. Não que se desconfie da sinceridade dos distintos votos de quem manda essas mensagens. Porém, não enviar uma mensagem por esquecimento não é menos sincero do que enviar uma mensagem coletiva. Parece que, na tábua de frios em que se encontra o valor sinceridade, esses comportamentos assumem a mesma medida, embora não provoquem os mesmos resultados. Tá certo, essa afirmação pode ser cunhada de indelicada, todavia porta asas livres fornecidas pelo pensamento direto. Ou até acusem de retrógrados os detentores dos nãosmartphones ante sua incapacidade telefônica de brindar o Universo com uma única mensagem de texto.
                  Ao se analisar o humor coletivo em cada mês que compõe o ano, inclusive a partir das notícias veiculadas pela fabulosa mídia, poderá ser constatada uma brusca e dolorosa variação temperamental, culminando em risos, afetos e amores no alegre e triste mês de dezembro, o período da efetiva solidariedade humana. Assim seja, porque ninguém resiste a intempéries desérticas por muito tempo. Acabar o ano novo? Que nada! A questão é antecipar o feliz ano novo com uma série diária de bom dia, boa tarde e boa noite. Isso precisa ser internalizado, para não dizer que é um costume secular dependente atualmente do impulso matinal de cada indivíduo. Desse jeito, o explosivo feliz ano novo cantado no dia 31 de dezembro de todos os anos de todos os universos será sempre uma justa comemoração desse ato simples, emotivo, mas muitas vezes esquecido, que é desejar boa sorte, bom sucesso, boa esperança àquele que, ainda por esbarrão, compartilha a vida conosco.
                 Dessas contradições entre bom-dia e feliz ano novo surgem, de imediato, algumas rusgas existenciais ou pequenas comédias da vida privada. Por exemplo, no dia 30 de dezembro, o morador de um edifício passa pela portaria e não dá um bom dia ao porteiro, sendo que, no dia seguinte, lá por volta das 23h, quando já tomou umas e, segundo a psicologia, afrouxou seus freios morais, deseja um estridente feliz ano novo àquele porteiro, abraça-o, beija-o e lhe dá um pouco da ceia da virada do ano. E o mais incrível: no dia 01 de janeiro, liga para a portaria e ordena àquele mesmo porteiro para lhe trazer imediatamente o jornal do dia, e logicamente sem lhe dizer por favor. E logicamente sem lhe dar um bom dia. Afinal, já é um ano novo.
                  Pois bem, realmente é importante refletir como iremos saborear a nova fatia do tempo, já subdividida em 365 pedaços. Quem convidaremos para participar do banquete oferecido pela vida? O que faremos da vida? Essas questões mexem sim com a gente. A ideia é reafirmá-las no dia a dia. Por isso, quando chegar o próximo 31 de dezembro, continue festivo, alegre, renovador, dado, falante e inebriante. Essas características devem permanecer. Só não perca a coerência com a vida. O ano novo cabe no instante, e este se renova naturalmente, é da sua natureza mesmo. Não pense que é o inverso. O instante pode ser chamado também de oportunidade, e a visibilidade desta Rainha dependerá muito da sua percepção.
               Portanto, diga feliz ano novo, mas se lembre de que, antes do ano novo chegar, houve diversas pessoas que, no convencional ano velho, esperaram seu caloroso bom dia, boa tarde e boa noite. E no ano seguinte você terá a sagrada oportunidade, se o beijo da morte não levá-las, de restabelecer esses encontros afetivos e criar tantos outros. Então, siga seu caminho em paz, aproveitando o esperado ano novo.

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