quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Bem-vindo

 

Cheiro de alfazema,
Folhas verdes no barro,
Fitas do Bonfim na porta de entrada
Caminho registrado pelos pés descalços
O dendê na panela fazendo fumaça
Búzios jogados, sorte lançada, 
Quem quer vem,
Quem não quer, 
Fica na estrada  
 
Atabaques no fervor
Da mão preta calejada
Agitam a energia natural
Desfazendo o prato da encruzilhada
Purificando também a cachaça 
 
Falta o charuto
Uma ou duas baforadas
Para a alegria ser completa
E com o pai nosso rezado
Cantigas serem entoadas
Do tipo atô atôooo, olha o grito da senzala,
Autorizando-se a conversa desejada

Pode vir. Caminho aberto.
 

Barba grisalha
Orientação para a luz
Sabedoria apoiada na bengala
Vejo-o no pano branco
Largado humildemente sobre seu corpo
Para enfrentar a batalha diária
 
Com farelo de pão em casa
No seu sorriso alvo ainda disfarça
O sofrimento vivido numa antiga vida massacrada
Ama o seu próximo à maneira de Jesus
E jogando fora o rancor
A paz renasce no seu peito
Para ser dada ao amigo desconhecido

Hoje, sem trilhos, com a cana industrializada,
E algemas partidas,
Sua carta de alforria foi esclarecida
Sobrando-lhe tempo para ajudar os amigos de jornada
Obrigado, preto véio,
Pelo axé dado a quem tanto precisa.

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