quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O que é isso?!


Hoje, ao ver uma cena de novela,
Descobri um estado sentimental precário,
Semelhante à condição humana da paixão.
Menos intenso. Bem menos intenso. Confesso.
Só que também é puro devotamento e tem, sem ser obrigação, que ser amigo do encontro,
E isso se dá apenas para que possa existir.
Atua na superfície, porque esta é o seu primeiro espaço de cultivo,
Contudo, promove o aprofundamento, 
A interiorização de um novo sentimento,
Da primeira impressão,
Do estado subconsciente do belo
Quando se esquece que é belo,
E ao reconhecer–se belo é devorado pela esfinge da paixão.
Nisso tudo suspende-se o tempo,
Embora relógios da cidade ainda funcionem.
Reativam-se pulsos, e aquele segundo transformado em horas
Poderá ser classificado como um afetivo absurdo.
O que é isso?!
O que é isso, meu Deus?
O que é esse mágico beliscão casual, que pinica o ego
sem machucar a vaidade?
O que é isso? Diz-me, oh mago do sexo não prometido!
Paro um momento. Relembro do filme Forrest Gump,
Daquele episódio em que Forrest encontra uma doce menininha num dos assentos do ônibus escolar.
Paro mais um pouco dentro da origem desse congelamento inicial,
Proporcionado pela salteadora apelidada de memória afetiva,
E admito que naquela cena não houve paixão.
Naquela cena, não houve amor à primeira vista.
Definitivamente, foi outra coisa, bem intensamente diversa.
Nesse mesmo instante em que parei para pensar,
Também parei de pensar, porque, coincidência ou não,
Realidade ou não, filme ou não,
Vi alguém diferentemente belo passar.
Abriu-se, então, o mar vermelho coronário.
As artérias impulsivamente se dilataram como
se conhecessem a inteligência do destino,
Porém, é início, abertura, e o sal, especiaria antiga trazida no mar,
Ainda não visitou os lábios de quem canta para a vida, 
Embora a língua passe ansiosamente pela boca,
A fim de experimentar o doce sabor do encantamento,
Que arriscam dizer que é agridoce, levemente apimentado de curiosidade.
Nisso tudo, é verdade, sinto meu delicioso tormento: o que será de nós dois?
Quantas definições, meu Deus!
Quanta indefinição, meu Deus!
De fato, não sei decifrar a impressão daquele momento
O que seria isso?
O que é esse estremecer imediato, que pede aquela música do rádio, e  devolve a esperança de um novo relacionamento?
O que é isso?!
O que é isso?
Diz-me, oh gênio da sorte humana, verso e reverso da vida!
Donnnnnnnnnnnnn, donnnnnnnnnnnnnnnnnnn, donnnnnnnnnnnnnnnnn!
As doze badaladas prenunciam o fim da angústia.
Silêncio em cima de silêncio. Sem mago, sem gênio, encontra-se a resposta numa pequena cidade do interior.
Não é amor. Não é paixão.  Na verdade, a reposta foi dada linhas atrás, e eu não sabia disso.
Falo do encantamento.

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